Bula!
Originalmente escrevi este blog enquanto estava de férias no paraíso tropical que é Fiji. Se nunca o visitaste, precisas de arranjar uma forma de lá chegar e experienciar a fantástica comida Fijiana, o seu clima e a sua hospitalidade.
Quero-me concentrar aqui no último aspeto, um dos elementos mais cativantes da cultura Fijiana é a sua aceitação graciosa de qualquer pessoa, tal como a sua felicidade genuína ao recebê-lo(a) nas suas ilhas.
A palavra ‘Bula’ é utilizada universalmente para dizer olá ou dar as boas-vindas em Fiji, e toda gente o irá cumprimentar com esta amável expressão. Não é algo que façam só para os turistas nem é um cumprimento no qual os locais se sentem forçados a cumprir. É de facto um “olá” genuíno que lhe vai fazer sentir muito bem!
Como eu venho de uma cultura ocidental, a primeira coisa que me chamou a atenção durante as minhas férias foi o facto que realmente perdemos a arte da comunicação e, mais importantemente a habilidade para nos conectarmos com os outros à nossa volta. Mesmo enquanto eu passeava pelos resorts em Fiji, outras pessoas do ocidente que passavam por mim simplesmente olhavam para baixo e, com alguma sorte, murmuravam um olá.
O exemplo mais significante disto que testemunhei ocorreu quando eu estava a assistir uma conferência mundial sobre Voluntariado em Singapura no último ano. Quando eu e um amigo saímos do metro extremamente lotado na hora de ponta, e lá fizemos o nosso caminho entre toda aquela gente que ia para o seu trabalho, eu de repente apercebi-me que algo estava estranho. Ninguém estava a falar com outro. Ninguém! Todas as pessoas estavam concentradas nos seus pequenos aparelhos eletrónicos, presos em mundos que estavam a quilómetros da pessoa que estava mesmo a passar ao lado deles. Foi mesmo um momento surreal!
Como é que isto tudo se liga ao tópico muito falado de gestão de voluntariado?
Bem, eu acredito que muitos programas de voluntariado perderam (ou arriscam perder) a arte de comunicação efetiva e a ligação com os seus voluntários à medida que trabalhamos em ambientes que continuam a exigir cada vez mais capacidades administrativas dentro do nosso local de trabalho.
Historicamente, o papel da liderança de voluntariado emergiu como algo que requeria um foco no lado pessoal de trabalhar com voluntários. Eu lembro-me perfeitamente de embarcar no meu primeiro programa de voluntariado no final dos anos 80 e também do passar de testemunho, que recebi no primeiro dia, do coordenador que estava de saída.
Este passar de testemunho consistia em dicas pessoais de como conseguir extrair o máximo de cada voluntário. Conselho do tipo “Este é o Ken e ele vai estar à espera de que te sentes e bebas um café com ele quando ele chegar na terça de manhã” ou “A Mary gostas orgulha-se da sua capacidade para o artesanato e irá trazer-te várias amostras para que o vejas”. Resumidamente, era tudo focado nas PESSOAS e a liderança de voluntárias naquela altura era praticamente uma “profissão de pessoas”.
À medida que o tempo passou, novos e maravilhosos termos como “responsabilidade”, “litigação” e “gestão de riscos” entraram no vocabulário da gestão de voluntariado, foi nessa altura que as organizações pararam de empregar gestores de voluntariado com fortes capacidades interpessoais e passaram a procurar líderes de voluntariado com capacidades mais voltadas para a administração, políticas, desenvolvimento e gestão de recursos humanos.
Eu não estou a sugerir de forma alguma que haja algo de errado com esta evolução, maior parte dela era necessária e importante para um desenvolvimento efetivo do voluntariado e para a proteção dos voluntários. No entanto, eu falo há muitos anos sobre o risco inerente a esta evolução, o risco desta área ficar menos focada nas pessoas e muito mais focada no papel!
Eu lembro-me muitas vezes de uma peça de arte que o meu meio-irmão (artista) David Archer* criou que ilustra esta preocupação lindamente. O David cria “automata” – obras de arte que se movem à medida que se manuseia alavancas e se clica em botões. Esta obra particular tem uma caixa grande com um aspeto industrial com uma correia transportadora atravessada no meio. Na esquerda da caixa, a correia transportadora entra na caixa e na correia estão pequenas figuras de artistas, chefs, atletas e outros indivíduos talentosos. À medida que a correia transportadora emerge da caixa industrial pela direita, ela enche-se com uma linha de robots – todos exatamente iguais.
Para o Dave este é uma tomada de posição sobre a industrialização, mas para mim é uma grande representação do que nós podemos fazer com as nossas equipas de voluntários. Nós ficamos tão ocupados ao “processá-los” que nos esquecemos que eles chegam a nós com um vasto leque natural de competências, talentos, conhecimentos e habilidades.
Então fica aqui um lembrete – como líderes de voluntários nós estamos sempre a trabalhar numa “profissão de pessoas” em PRIMEIRO LUGAR e nós temos a responsabilidade de continuar a encontrar formas de nos ligarmos às pessoas diariamente.
Existem muitas estratégias para o conseguir, mas todas elas andam à volta de nós conseguirmos arranjar tempo no meio de todas as tarefas administrativas para deixarmos as nossas secretárias e nos ligarmos aos voluntários. Uma técnica muito falada para o conseguir é a chamada “gestão por andar por ali”. Muito simplesmente, arranja tempo todos os dias (no seu diário) para passear e dizer um olá à sua equipa, ouça as preocupações deles e tome notas sobre as coisas que requerem a sua atenção.
Ficará surpreendido com a diferença que isso faz, o quão fácil é, e o quão mais visível irás parecer para os teus voluntários.
A outra coisa que frequentemente nos esquecemos de fazer durante um dia de trabalho árduo é simplesmente dizer obrigado(a) aos nossos voluntários.
No filme Hitchock, o Will Smith faz o papel de um super-herói desleixado com poderes fantásticos para fazer o bem, mas ele tem estado tão ocupado ao simplesmente tentar terminar todas as suas tarefas que ele acabou por se esquecer do verdadeiro propósito para a utilização dos seus poderes de super-herói.
Ao longo do filme ele é treinado para ser mais socialmente aceitável e entre outras coisas, relembram-lhe vezes sem conta para dizer “bom trabalho” à polícia e aos outros que frequentemente estão nos locais de crime antes da chegada dele.
Então como líderes de voluntários nunca nos podemos esquecer de dizer “bula” aos nossos voluntários. De deixar a nossa secretária, de passear com as nossas equipas e de nos certificarmos que cada voluntário se sente como um membro verdadeiramente valorizado da sua equipa.
Agora, se me derem licença, irei aproveitar para beber outro cocktail!
Vinaka! E por favor partilhe a sua opinião abaixo.